Notícia
TEMA DO CÍRIO DE NAZARÉ 2025
“MARIA, MÃE E RAINHA DE TODA A CRIAÇÃO”
A Virgem Maria é a Mulher «vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap12, 1). Elevada ao céu, é MÃE E RAINHA DE TODA A CRIAÇÃO. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza.
- O Círio de Nazaré de 2025 há de ser um acontecimento significativo, dando um sentido novo e profundo a todos os argumentos que cercarão o ano de temas ligados à criação, ao meio ambiente e ao clima. A maior parte dos textos propostos à Diretoria de Evangelização, para o seu trabalho, encontra-se na Encíclica “Laudato si’ ”, do Papa Francisco.
- Ao reconhecer Maria como Mãe e Rainha de toda a criação, será muito importante que vejamos o conjunto da obra criadora de Deus como a Escritura apresenta. Não entremos numa espécie de divinização da natureza. Estejamos atentos, pois, respeitando a liberdade das pessoas, a nós cabe anunciar a verdade do plano de Deus! Podemos ver, como já encontrei uma bela visão poética, que toda a criação foi feita como um excepcional cenário da história pensada por Deus. O sol, a lua e as estrelas iluminam o palco! Os animais de todas as espécies, o mistério da vida que pulula! Plantas, flores e frutos são a alimentação e ornamentação. Os mares e os rios completam as cenas. No final, o ser humano, homem e mulher. O coração da criação é a pessoa humana e, mais ainda, o ponto auge de toda a história, sua máxima expressão, é Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, que assumiu tudo o que é nosso, menos o pecado, para levar-nos com ele ao Paraíso.
- Desejamos contribuir com a realização do Jubileu de 2025, cujo tema é PEREGRINOS DA ESPERANÇA, num mundo machucado e cansado, quando temos o privilégio de acender tantas luzes nos corações das multidões que acorrem ao Círio de Nazaré. Lembremo-nos que a Basílica Santuário de Nazaré será também local privilegiado para as Indulgências do Ano Santo do Jubileu durante todo o ano!
- A Bula de Convocação do Jubileu será um dos pontos de referência para os estudos da Diretoria de Evangelização. Aqui estão alguns números (7-9) que consideramos positivamente provocantes para a reflexão: Sinais de esperança: Além de beber a esperança na graça de Deus, somos também chamados a descobri-la nos sinais dos tempos, que o Senhor oferece. Como afirma o Concílio Vaticano II, «é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas». Por isso, para não cair na tentação de nos considerarmos subjugados pelo mal e pela violência, é necessário prestar atenção a tanto bem que existe no mundo. Porém, os sinais dos tempos, que contêm o anélito do coração humano, carecido da presença salvífica de Deus, pedem para ser transformados em sinais de esperança. Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra. Esquecida dos dramas do passado, a humanidade encontra-se de novo submetida a uma difícil prova que vê muitas populações oprimidas pela brutalidade da violência. Faltará ainda a esses povos algo que não tenham já sofrido? Como é possível que o seu desesperado grito de ajuda não impulsione os responsáveis das Nações a querer pôr fim aos demasiados conflitos regionais, cientes das consequências que daí podem derivar a nível mundial? Será excessivo sonhar que as armas se calem e deixem de difundir destruição e morte? O Jubileu recorde que serão «chamados filhos de Deus» todos aqueles que se fazem «obreiros de paz» (Mt 5, 9). A necessidade da paz interpela a todos e impõe a prossecução de projetos concretos. Que não falte o empenho da diplomacia para se construírem, de forma corajosa e criativa, espaços de negociação em vista duma paz duradoura. Olhar para o futuro com esperança equivale a ter também uma visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir. Infelizmente, em muitas situações, temos de constatar que falta esta perspectiva. A primeira consequência é a perda do desejo de transmitir a vida. Por causa dos ritmos frenéticos da vida, dos receios face ao futuro, da falta de garantias laborais e de adequada proteção social, de modelos sociais ditados mais pela procura do lucro do que pelo cuidado das relações humanas, assiste-se em vários países a uma preocupante queda da natalidade. Já noutros contextos, «culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e seletivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas». A abertura à vida, com uma maternidade e uma paternidade responsáveis, é o projeto que o Criador inscreveu no coração e no corpo dos homens e das mulheres, uma missão que o Senhor confia aos cônjuges e ao seu amor. Além do empenho legislativo dos Estados, é urgente que não lhes falte o apoio convicto das comunidades de fé e da inteira comunidade civil em todas as suas componentes, porque o desejo dos jovens de gerar novos filhos e filhas, como fruto da fecundidade do seu amor, dá futuro a toda a sociedade e é uma questão de esperança: depende da esperança e gera esperança. Por isso, a comunidade cristã não pode ficar atrás de ninguém no apoio à necessidade duma aliança social em prol da esperança, que seja inclusiva e não ideológica, e trabalhe por um futuro marcado pelo sorriso de tantos meninos e meninas que, em muitas partes do mundo, venham encher os demasiados berços vazios. Todos, na realidade, sentem a necessidade de recuperar a alegria de viver, porque o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26), não pode contentar-se com sobreviver ou ir vivendo nem conformar-se com o tempo presente, satisfazendo-se com realidades apenas materiais. Isto fecha-nos no individualismo e corrói a esperança, gerando uma tristeza que se aninha no coração, tornando-nos amargos e impacientes”.
- TEXTO DE REFERÊNCIA PARA A PREPARAÇÃO DOS TEMAS DE PEREGRINAÇÃO
- “LAUDATO SI’” 241
Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido.
- Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano.
- Ela vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam a sua beleza. É a Mulher «vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap 12, 1).
- Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza.
- Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que «guardava» cuidadosamente (cf. Lc 2, 51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas.
- Por isso, podemos pedir-lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente.
MARIA, A MÃE DA EVANGELIZAÇÃO
- “LAUDATO SI’” 284. Juntamente com o Espírito Santo, sempre está Maria no meio do povo.
- Ela reunia os discípulos para o invocarem (At 1, 14), e assim tornou possível a explosão missionária que se deu no Pentecostes.
- Ela é a Mãe da Igreja evangelizadora e, sem ela, não podemos compreender cabalmente o espírito da nova evangelização.
O DOM DE JESUS AO SEU POVO
- “LAUDATO SI’” 285. Na cruz, quando Cristo suportava em sua carne o dramático encontro entre o pecado do mundo e a misericórdia divina, pôde ver a seus pés a presença consoladora da Mãe e do amigo.
- Naquele momento crucial, antes de declarar consumada a obra que o Pai lhe havia confiado, Jesus disse a Maria: «Mulher, eis o teu filho!» E, logo a seguir, disse ao amigo bem-amado: «Eis a tua mãe!» (Jo 19, 26-27). Estas palavras de Jesus, no limiar da morte, não exprimem primariamente uma terna preocupação por sua Mãe; mas são, antes, uma fórmula de revelação que manifesta o mistério duma missão salvífica especial.
- Jesus deixava-nos a sua Mãe como nossa Mãe. E só depois de fazer isto é que Jesus pôde sentir que «tudo se consumara» (Jo 19, 28). Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe; e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho.
- Não é do agrado do Senhor que falte à sua Igreja o ícone feminino. Ela, que o gerou com tanta fé, também acompanha «o resto da sua descendência, isto é, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus» (Ap 12, 17). Esta ligação íntima entre Maria, a Igreja e cada fiel, enquanto de maneira diversa geram Cristo, foi maravilhosamente expressa pelo Beato Isaac da Estrela: «Nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui em geral à Igreja, Virgem e Mãe, aplica-se em especial à Virgem Maria. Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. No tabernáculo do ventre de Maria, Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, permanecerá até o fim do mundo; no conhecimento e amor da alma fiel habitará pelos séculos dos séculos».
- “LAUDATO SI’” 286. Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura.
- Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor.
- É a amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida.
- É aquela que tem o coração trespassado pela espada, que compreende todas as penas.
- Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça.
- Ela é a missionária que se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno.
- Como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus.
- Através dos diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua identidade histórica.
- Muitos pais cristãos pedem o Batismo para seus filhos num santuário mariano, manifestando assim a fé na ação materna de Maria que gera novos filhos para Deus. É lá, nos santuários, que se pode observar como Maria reúne ao seu redor os filhos que, com grandes sacrifícios, vêm peregrinos para vê-a e deixar-se olhar por ela. Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e as fadigas da vida. Como a São João Diego, Maria oferece-lhes a carícia da sua consolação materna e diz-lhes: «Não se perturbe o teu coração. Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?»
A ESTRELA DA NOVA EVANGELIZAÇÃO
- “LAUDATO SI’” 287. À Mãe do Evangelho vivente, pedimos a sua intercessão a fim de que este convite para uma nova etapa da evangelização seja acolhido por toda a comunidade eclesial:
- Ela é a mulher de fé, que vive e caminha na fé, e «a sua excepcional peregrinação da fé representa um ponto de referência constante para a Igreja». Ela deixou-se conduzir pelo Espírito, através dum itinerário de fé, rumo a uma destinação feita de serviço e fecundidade.
- Hoje fixamos nela o olhar, para que nos ajude a anunciar a todos a mensagem de salvação e para que os novos discípulos se tornem operosos evangelizadores. Nesta peregrinação evangelizadora, não faltam as fases de aridez, de ocultação e até de um certo cansaço, como as que viveu Maria nos anos de Nazaré enquanto Jesus crescia: «Este é o início do Evangelho, isto é, da boa nova, da jubilosa nova. Não é difícil, porém, perceber naquele início um particular aperto do coração, unido a uma espécie de “noite da fé” – para usar as palavras de São João da Cruz – como que um “véu” através do qual é forçoso aproximar-se do Invisível e viver na intimidade com o mistério. Foi deste modo efetivamente que Maria, durante muitos anos, permaneceu na intimidade com o mistério do seu Filho, e avançou no seu itinerário de fé».
- “LAUDATO SI’” 288. Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto.
- Nela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes. Fixando-a, descobrimos que aquela que louvava a Deus porque «derrubou os poderosos de seus tronos» e «aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 52.53) é a mesma que assegura o aconchego dum lar à nossa busca de justiça. E é a mesma também que conserva cuidadosamente «todas estas coisas ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19).
- Maria sabe reconhecer os vestígios do Espírito de Deus tanto nos grandes acontecimentos como naqueles que parecem imperceptíveis. É contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária de cada um e de todos.
- É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também nossa Senhora da prontidão, a que sai «às pressas» (Lc 1, 39) da sua povoação para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização.
- Pedimos-lhe que nos ajude, com a sua oração materna, para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível o nascimento dum mundo novo. É o Ressuscitado que nos diz, com uma força que nos enche de imensa confiança e firmíssima esperança: «Eu renovo todas as coisas» (Ap 21, 5). Com Maria, avançamos confiantes para esta promessa, e dizemos-lhe:
Virgem e Mãe Maria,
Vós que, movida pelo Espírito,
acolhestes o Verbo da vida
na profundidade da vossa fé humilde,
totalmente entregue ao Eterno,
ajudai-nos a dizer o nosso «sim»
perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus.
Vós, cheia da presença de Cristo,
levastes a alegria a João Batista,
fazendo-o exultar no seio de sua mãe.
Vós, estremecendo de alegria,
cantastes as maravilhas do Senhor.
Vós, que permanecestes firme diante da Cruz
com uma fé inabalável,
e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição,
reunistes os discípulos à espera do Espírito
para que nascesse a Igreja evangelizadora.
Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados
para levar a todos o Evangelho da vida
que vence a morte.
Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos
para que chegue a todos
o dom da beleza que não se apaga.
Vós, Virgem da escuta e da contemplação,
Mãe do amor, esposa das núpcias eternas
intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo,
para que ela nunca se feche nem se detenha
na sua paixão por instaurar o Reino.
Estrela da nova evangelização,
ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão,
do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres,
para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra
e nenhuma periferia fique privada da sua luz.
Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós. Amém. Aleluia!
TEXTOS DE CHIARA LUBICH: Há poucos dias encontrei dois textos belíssimos de Chiara Lubich, que podem ajudar na reflexão da Diretoria de Evangelização (A. “Com coração de Mãe” (C. Lubich, “Conversazioni, a cura di M. Vandeleene”, Città Nuova, Roma 2019, p. 288. Rocca di Papa, 26.05.1987; B. Debaixo da natureza, está a presença de Deus – Respostas aos cidadãos de Loppiano, 27.11.1975)
- “Devemos formular este propósito: Eu me comportarei com todas as pessoas de quem me aproximarei, ou pelas quais trabalharei, como se fosse mãe de cada uma delas. Uma mãe acolhe sempre, ajuda sempre, tudo cobre. Uma mãe perdoa todas as coisas a seu filho, mesmo que ele fosse um delinquente ou um terrorista. O amor de uma mãe é de fato muito semelhante à caridade de Cristo, de que fala São Paulo. Se nós tivermos o coração de uma mãe ou, mais precisamente, se nos propusermos a ter o coração da Mãe por excelência, Maria, estaremos sempre prontos a amar os outros em todas as circunstâncias e assim ter vivo o Ressuscitado em nós. Mas haveremos de fazer também tudo o que nos é pedido para manter presente Jesus, o Ressuscitado, em nosso meio. Se tivermos o coração dessa Mãe, amaremos a todos, e não só os membros de nossa Igreja, mas também aqueles que participam de outras Igrejas. E não só os cristãos, mas também os muçulmanos, os budistas, os hinduístas etc. Também todas as pessoas de boa vontade. Também todas as pessoas que habitam a Terra, porque a maternidade de Maria é universal, como foi universal a Redenção (cf. Lumen Gentium 69).
- Pergunta: “Tenho um amor particular pela natureza e tenho me perguntado tantas vezes como deve ser meu relacionamento com ela, a natureza, para que não seja um relacionamento sentimental, mas o relacionamento que Deus quer. Pode dizer-nos algo sobre o seu relacionamento com a natureza?”
Resposta de Chiara Lubich: “Em minha vida espiritual, tive diversos momentos em que o Senhor me fez sentir mais este aspecto da vida, o contato com a natureza, mas foi um encontro com a natureza bem característico. Posso contar alguns episódios, mas o que o Senhor me fez ver não foi em primeiro lugar a própria natureza, mas quanto Deus sustenta a própria natureza, Deus que a mantém viva, Deus que está como que debaixo, sustentando a natureza, Deus que dá à natureza aquela beleza que é a beleza das belezas, isto é, a harmonia, a unidade entre todas as coisas que estão na natureza, porque todas as coisas, assim o vi, estão ligadas por um fio de ouro, uma harmonia, uma unidade. Quando um rio se dirige ao mar, vai por amor até o mar, não vai por acaso. Assim, quando floresce uma flor, é por amor que floresce, e não por acaso. Assim, quando vem o outono e as folhas caem, não é por acaso, mas por amor, é por aquele amor que se assemelha a Jesus Abandonado que elas caem. A natureza é toda sustentada por um Evangelho, é toda sustentada por Deus. Ora, muitas vezes em minha vida o Senhor meu deu a graça, já que terei algo a ver com a natureza também depois, mas isso lhes contarei quando vocês forem mais crescidos, eu devia penetrar um pouquinho nas coisas da natureza para ver que lugar tinham em Deus, ele me fez entender, me fez ver, quase com estes meus olhos, mas foi mais com a alma, a presença de Deus na natureza, como um grande sol que a ilumina completamente. Por isso a natureza se transformou numa beleza que ainda tenho toda nos olhos, a beleza da natureza que não se vê se você não tem aquela graça, mas quando a tem não se esquece mais. Se nós somos filhos de Deus, e sendo o amor que sustenta como uma mãe a natureza, todas as coisas da natureza são filhas de Deus. Eis porque São Francisco as chamava de irmãs e irmãos: irmã luz, irmão sol, irmã água. Por isso, porque é verdade, todas estas coisas criaturas do mesmo Criador. Ter descoberto, ter visto, ter a graça de ver Deus “por baixo” que liga como irmãzinhas todas as coisas da natureza ou irmãozinhos outras realidades da natureza, foi uma graça enorme que ele me deu, de respirar, não ter medo da natureza, mas abraçá-la com os olhos, com a pintura, como olhando um quadro, acolhendo todos os artistas, compreendendo-os em sua profundidade, entendendo que há algo nos artistas, como eu disse outras vezes, que os assemelha aos santos, assim como os pagãos, não é que adorem aquela pedra porque é pedra, mas porque viram Deus sob aquela pedra e por isso, pela recordação de seus antepassados vão adiante, adorando. Assim os artistas, os verdadeiros artistas conseguem colher, naquele momento de sua obra artística, em sua inspiração, que há algo sob a natureza, é Deus. Tendo entendido isso, a natureza adquiriu um enorme valor, a dignidade de uma filha de Deus. E então não é mais um mísero ramo de erva ou uma florzinha ou qualquer outra coisa, e é necessário estar atentos para tocar nestas obras, vê-las como criaturas do mesmo Criador, daquele que nos criou. Por isso, nenhum receio em ver a natureza. Se você a vê separada do Criador, então a verá sentimentalmente. Se você a olha como filha daquele que te fez, então a contempla de modo sobrenatural, e pode fazê-lo quanto quiser, e ela a levará sempre mais perto de Deus”
Belém do Pará, no dia 20 de outubro de 2024, depois de contemplar a beleza da Obra de Deus, primeiro na Eucaristia e depois nas nossas crianças, esperança de nossa vida de Igreja!
Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo de Santa Maria de Belém do Grão Pará
TEMA DO CÍRIO DE NAZARÉ 2025
“MARIA, MÃE E RAINHA DE TODA A CRIAÇÃO”
A Virgem Maria é a Mulher «vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap12, 1). Elevada ao céu, é MÃE E RAINHA DE TODA A CRIAÇÃO. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza.
- O Círio de Nazaré de 2025 há de ser um acontecimento significativo, dando um sentido novo e profundo a todos os argumentos que cercarão o ano de temas ligados à criação, ao meio ambiente e ao clima. A maior parte dos textos propostos à Diretoria de Evangelização, para o seu trabalho, encontra-se na Encíclica “Laudato si’ ”, do Papa Francisco.
- Ao reconhecer Maria como Mãe e Rainha de toda a criação, será muito importante que vejamos o conjunto da obra criadora de Deus como a Escritura apresenta. Não entremos numa espécie de divinização da natureza. Estejamos atentos, pois, respeitando a liberdade das pessoas, a nós cabe anunciar a verdade do plano de Deus! Podemos ver, como já encontrei uma bela visão poética, que toda a criação foi feita como um excepcional cenário da história pensada por Deus. O sol, a lua e as estrelas iluminam o palco! Os animais de todas as espécies, o mistério da vida que pulula! Plantas, flores e frutos são a alimentação e ornamentação. Os mares e os rios completam as cenas. No final, o ser humano, homem e mulher. O coração da criação é a pessoa humana e, mais ainda, o ponto auge de toda a história, sua máxima expressão, é Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, que assumiu tudo o que é nosso, menos o pecado, para levar-nos com ele ao Paraíso.
- Desejamos contribuir com a realização do Jubileu de 2025, cujo tema é PEREGRINOS DA ESPERANÇA, num mundo machucado e cansado, quando temos o privilégio de acender tantas luzes nos corações das multidões que acorrem ao Círio de Nazaré. Lembremo-nos que a Basílica Santuário de Nazaré será também local privilegiado para as Indulgências do Ano Santo do Jubileu durante todo o ano!
- A Bula de Convocação do Jubileu será um dos pontos de referência para os estudos da Diretoria de Evangelização. Aqui estão alguns números (7-9) que consideramos positivamente provocantes para a reflexão: Sinais de esperança: Além de beber a esperança na graça de Deus, somos também chamados a descobri-la nos sinais dos tempos, que o Senhor oferece. Como afirma o Concílio Vaticano II, «é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas». Por isso, para não cair na tentação de nos considerarmos subjugados pelo mal e pela violência, é necessário prestar atenção a tanto bem que existe no mundo. Porém, os sinais dos tempos, que contêm o anélito do coração humano, carecido da presença salvífica de Deus, pedem para ser transformados em sinais de esperança. Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra. Esquecida dos dramas do passado, a humanidade encontra-se de novo submetida a uma difícil prova que vê muitas populações oprimidas pela brutalidade da violência. Faltará ainda a esses povos algo que não tenham já sofrido? Como é possível que o seu desesperado grito de ajuda não impulsione os responsáveis das Nações a querer pôr fim aos demasiados conflitos regionais, cientes das consequências que daí podem derivar a nível mundial? Será excessivo sonhar que as armas se calem e deixem de difundir destruição e morte? O Jubileu recorde que serão «chamados filhos de Deus» todos aqueles que se fazem «obreiros de paz» (Mt 5, 9). A necessidade da paz interpela a todos e impõe a prossecução de projetos concretos. Que não falte o empenho da diplomacia para se construírem, de forma corajosa e criativa, espaços de negociação em vista duma paz duradoura. Olhar para o futuro com esperança equivale a ter também uma visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir. Infelizmente, em muitas situações, temos de constatar que falta esta perspectiva. A primeira consequência é a perda do desejo de transmitir a vida. Por causa dos ritmos frenéticos da vida, dos receios face ao futuro, da falta de garantias laborais e de adequada proteção social, de modelos sociais ditados mais pela procura do lucro do que pelo cuidado das relações humanas, assiste-se em vários países a uma preocupante queda da natalidade. Já noutros contextos, «culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e seletivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas». A abertura à vida, com uma maternidade e uma paternidade responsáveis, é o projeto que o Criador inscreveu no coração e no corpo dos homens e das mulheres, uma missão que o Senhor confia aos cônjuges e ao seu amor. Além do empenho legislativo dos Estados, é urgente que não lhes falte o apoio convicto das comunidades de fé e da inteira comunidade civil em todas as suas componentes, porque o desejo dos jovens de gerar novos filhos e filhas, como fruto da fecundidade do seu amor, dá futuro a toda a sociedade e é uma questão de esperança: depende da esperança e gera esperança. Por isso, a comunidade cristã não pode ficar atrás de ninguém no apoio à necessidade duma aliança social em prol da esperança, que seja inclusiva e não ideológica, e trabalhe por um futuro marcado pelo sorriso de tantos meninos e meninas que, em muitas partes do mundo, venham encher os demasiados berços vazios. Todos, na realidade, sentem a necessidade de recuperar a alegria de viver, porque o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26), não pode contentar-se com sobreviver ou ir vivendo nem conformar-se com o tempo presente, satisfazendo-se com realidades apenas materiais. Isto fecha-nos no individualismo e corrói a esperança, gerando uma tristeza que se aninha no coração, tornando-nos amargos e impacientes”.
- TEXTO DE REFERÊNCIA PARA A PREPARAÇÃO DOS TEMAS DE PEREGRINAÇÃO
- “LAUDATO SI’” 241
Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido.
- Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano.
- Ela vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam a sua beleza. É a Mulher «vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap 12, 1).
- Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza.
- Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que «guardava» cuidadosamente (cf. Lc 2, 51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas.
- Por isso, podemos pedir-lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente.
MARIA, A MÃE DA EVANGELIZAÇÃO
- “LAUDATO SI’” 284. Juntamente com o Espírito Santo, sempre está Maria no meio do povo.
- Ela reunia os discípulos para o invocarem (At 1, 14), e assim tornou possível a explosão missionária que se deu no Pentecostes.
- Ela é a Mãe da Igreja evangelizadora e, sem ela, não podemos compreender cabalmente o espírito da nova evangelização.
O DOM DE JESUS AO SEU POVO
- “LAUDATO SI’” 285. Na cruz, quando Cristo suportava em sua carne o dramático encontro entre o pecado do mundo e a misericórdia divina, pôde ver a seus pés a presença consoladora da Mãe e do amigo.
- Naquele momento crucial, antes de declarar consumada a obra que o Pai lhe havia confiado, Jesus disse a Maria: «Mulher, eis o teu filho!» E, logo a seguir, disse ao amigo bem-amado: «Eis a tua mãe!» (Jo 19, 26-27). Estas palavras de Jesus, no limiar da morte, não exprimem primariamente uma terna preocupação por sua Mãe; mas são, antes, uma fórmula de revelação que manifesta o mistério duma missão salvífica especial.
- Jesus deixava-nos a sua Mãe como nossa Mãe. E só depois de fazer isto é que Jesus pôde sentir que «tudo se consumara» (Jo 19, 28). Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe; e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho.
- Não é do agrado do Senhor que falte à sua Igreja o ícone feminino. Ela, que o gerou com tanta fé, também acompanha «o resto da sua descendência, isto é, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus» (Ap 12, 17). Esta ligação íntima entre Maria, a Igreja e cada fiel, enquanto de maneira diversa geram Cristo, foi maravilhosamente expressa pelo Beato Isaac da Estrela: «Nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui em geral à Igreja, Virgem e Mãe, aplica-se em especial à Virgem Maria. Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. No tabernáculo do ventre de Maria, Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, permanecerá até o fim do mundo; no conhecimento e amor da alma fiel habitará pelos séculos dos séculos».
- “LAUDATO SI’” 286. Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura.
- Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor.
- É a amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida.
- É aquela que tem o coração trespassado pela espada, que compreende todas as penas.
- Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça.
- Ela é a missionária que se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno.
- Como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus.
- Através dos diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua identidade histórica.
- Muitos pais cristãos pedem o Batismo para seus filhos num santuário mariano, manifestando assim a fé na ação materna de Maria que gera novos filhos para Deus. É lá, nos santuários, que se pode observar como Maria reúne ao seu redor os filhos que, com grandes sacrifícios, vêm peregrinos para vê-a e deixar-se olhar por ela. Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e as fadigas da vida. Como a São João Diego, Maria oferece-lhes a carícia da sua consolação materna e diz-lhes: «Não se perturbe o teu coração. Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?»
A ESTRELA DA NOVA EVANGELIZAÇÃO
- “LAUDATO SI’” 287. À Mãe do Evangelho vivente, pedimos a sua intercessão a fim de que este convite para uma nova etapa da evangelização seja acolhido por toda a comunidade eclesial:
- Ela é a mulher de fé, que vive e caminha na fé, e «a sua excepcional peregrinação da fé representa um ponto de referência constante para a Igreja». Ela deixou-se conduzir pelo Espírito, através dum itinerário de fé, rumo a uma destinação feita de serviço e fecundidade.
- Hoje fixamos nela o olhar, para que nos ajude a anunciar a todos a mensagem de salvação e para que os novos discípulos se tornem operosos evangelizadores. Nesta peregrinação evangelizadora, não faltam as fases de aridez, de ocultação e até de um certo cansaço, como as que viveu Maria nos anos de Nazaré enquanto Jesus crescia: «Este é o início do Evangelho, isto é, da boa nova, da jubilosa nova. Não é difícil, porém, perceber naquele início um particular aperto do coração, unido a uma espécie de “noite da fé” – para usar as palavras de São João da Cruz – como que um “véu” através do qual é forçoso aproximar-se do Invisível e viver na intimidade com o mistério. Foi deste modo efetivamente que Maria, durante muitos anos, permaneceu na intimidade com o mistério do seu Filho, e avançou no seu itinerário de fé».
- “LAUDATO SI’” 288. Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto.
- Nela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes. Fixando-a, descobrimos que aquela que louvava a Deus porque «derrubou os poderosos de seus tronos» e «aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 52.53) é a mesma que assegura o aconchego dum lar à nossa busca de justiça. E é a mesma também que conserva cuidadosamente «todas estas coisas ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19).
- Maria sabe reconhecer os vestígios do Espírito de Deus tanto nos grandes acontecimentos como naqueles que parecem imperceptíveis. É contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária de cada um e de todos.
- É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também nossa Senhora da prontidão, a que sai «às pressas» (Lc 1, 39) da sua povoação para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização.
- Pedimos-lhe que nos ajude, com a sua oração materna, para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível o nascimento dum mundo novo. É o Ressuscitado que nos diz, com uma força que nos enche de imensa confiança e firmíssima esperança: «Eu renovo todas as coisas» (Ap 21, 5). Com Maria, avançamos confiantes para esta promessa, e dizemos-lhe:
Virgem e Mãe Maria,
Vós que, movida pelo Espírito,
acolhestes o Verbo da vida
na profundidade da vossa fé humilde,
totalmente entregue ao Eterno,
ajudai-nos a dizer o nosso «sim»
perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus.
Vós, cheia da presença de Cristo,
levastes a alegria a João Batista,
fazendo-o exultar no seio de sua mãe.
Vós, estremecendo de alegria,
cantastes as maravilhas do Senhor.
Vós, que permanecestes firme diante da Cruz
com uma fé inabalável,
e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição,
reunistes os discípulos à espera do Espírito
para que nascesse a Igreja evangelizadora.
Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados
para levar a todos o Evangelho da vida
que vence a morte.
Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos
para que chegue a todos
o dom da beleza que não se apaga.
Vós, Virgem da escuta e da contemplação,
Mãe do amor, esposa das núpcias eternas
intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo,
para que ela nunca se feche nem se detenha
na sua paixão por instaurar o Reino.
Estrela da nova evangelização,
ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão,
do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres,
para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra
e nenhuma periferia fique privada da sua luz.
Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós. Amém. Aleluia!
TEXTOS DE CHIARA LUBICH: Há poucos dias encontrei dois textos belíssimos de Chiara Lubich, que podem ajudar na reflexão da Diretoria de Evangelização (A. “Com coração de Mãe” (C. Lubich, “Conversazioni, a cura di M. Vandeleene”, Città Nuova, Roma 2019, p. 288. Rocca di Papa, 26.05.1987; B. Debaixo da natureza, está a presença de Deus – Respostas aos cidadãos de Loppiano, 27.11.1975)
- “Devemos formular este propósito: Eu me comportarei com todas as pessoas de quem me aproximarei, ou pelas quais trabalharei, como se fosse mãe de cada uma delas. Uma mãe acolhe sempre, ajuda sempre, tudo cobre. Uma mãe perdoa todas as coisas a seu filho, mesmo que ele fosse um delinquente ou um terrorista. O amor de uma mãe é de fato muito semelhante à caridade de Cristo, de que fala São Paulo. Se nós tivermos o coração de uma mãe ou, mais precisamente, se nos propusermos a ter o coração da Mãe por excelência, Maria, estaremos sempre prontos a amar os outros em todas as circunstâncias e assim ter vivo o Ressuscitado em nós. Mas haveremos de fazer também tudo o que nos é pedido para manter presente Jesus, o Ressuscitado, em nosso meio. Se tivermos o coração dessa Mãe, amaremos a todos, e não só os membros de nossa Igreja, mas também aqueles que participam de outras Igrejas. E não só os cristãos, mas também os muçulmanos, os budistas, os hinduístas etc. Também todas as pessoas de boa vontade. Também todas as pessoas que habitam a Terra, porque a maternidade de Maria é universal, como foi universal a Redenção (cf. Lumen Gentium 69).
- Pergunta: “Tenho um amor particular pela natureza e tenho me perguntado tantas vezes como deve ser meu relacionamento com ela, a natureza, para que não seja um relacionamento sentimental, mas o relacionamento que Deus quer. Pode dizer-nos algo sobre o seu relacionamento com a natureza?”
Resposta de Chiara Lubich: “Em minha vida espiritual, tive diversos momentos em que o Senhor me fez sentir mais este aspecto da vida, o contato com a natureza, mas foi um encontro com a natureza bem característico. Posso contar alguns episódios, mas o que o Senhor me fez ver não foi em primeiro lugar a própria natureza, mas quanto Deus sustenta a própria natureza, Deus que a mantém viva, Deus que está como que debaixo, sustentando a natureza, Deus que dá à natureza aquela beleza que é a beleza das belezas, isto é, a harmonia, a unidade entre todas as coisas que estão na natureza, porque todas as coisas, assim o vi, estão ligadas por um fio de ouro, uma harmonia, uma unidade. Quando um rio se dirige ao mar, vai por amor até o mar, não vai por acaso. Assim, quando floresce uma flor, é por amor que floresce, e não por acaso. Assim, quando vem o outono e as folhas caem, não é por acaso, mas por amor, é por aquele amor que se assemelha a Jesus Abandonado que elas caem. A natureza é toda sustentada por um Evangelho, é toda sustentada por Deus. Ora, muitas vezes em minha vida o Senhor meu deu a graça, já que terei algo a ver com a natureza também depois, mas isso lhes contarei quando vocês forem mais crescidos, eu devia penetrar um pouquinho nas coisas da natureza para ver que lugar tinham em Deus, ele me fez entender, me fez ver, quase com estes meus olhos, mas foi mais com a alma, a presença de Deus na natureza, como um grande sol que a ilumina completamente. Por isso a natureza se transformou numa beleza que ainda tenho toda nos olhos, a beleza da natureza que não se vê se você não tem aquela graça, mas quando a tem não se esquece mais. Se nós somos filhos de Deus, e sendo o amor que sustenta como uma mãe a natureza, todas as coisas da natureza são filhas de Deus. Eis porque São Francisco as chamava de irmãs e irmãos: irmã luz, irmão sol, irmã água. Por isso, porque é verdade, todas estas coisas criaturas do mesmo Criador. Ter descoberto, ter visto, ter a graça de ver Deus “por baixo” que liga como irmãzinhas todas as coisas da natureza ou irmãozinhos outras realidades da natureza, foi uma graça enorme que ele me deu, de respirar, não ter medo da natureza, mas abraçá-la com os olhos, com a pintura, como olhando um quadro, acolhendo todos os artistas, compreendendo-os em sua profundidade, entendendo que há algo nos artistas, como eu disse outras vezes, que os assemelha aos santos, assim como os pagãos, não é que adorem aquela pedra porque é pedra, mas porque viram Deus sob aquela pedra e por isso, pela recordação de seus antepassados vão adiante, adorando. Assim os artistas, os verdadeiros artistas conseguem colher, naquele momento de sua obra artística, em sua inspiração, que há algo sob a natureza, é Deus. Tendo entendido isso, a natureza adquiriu um enorme valor, a dignidade de uma filha de Deus. E então não é mais um mísero ramo de erva ou uma florzinha ou qualquer outra coisa, e é necessário estar atentos para tocar nestas obras, vê-las como criaturas do mesmo Criador, daquele que nos criou. Por isso, nenhum receio em ver a natureza. Se você a vê separada do Criador, então a verá sentimentalmente. Se você a olha como filha daquele que te fez, então a contempla de modo sobrenatural, e pode fazê-lo quanto quiser, e ela a levará sempre mais perto de Deus”
Belém do Pará, no dia 20 de outubro de 2024, depois de contemplar a beleza da Obra de Deus, primeiro na Eucaristia e depois nas nossas crianças, esperança de nossa vida de Igreja!
Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo de Santa Maria de Belém do Grão Pará